Concepções de Liberdade

TEXTO  I

 A ilusão do livre-arbítrio

Baruch Espinosa

Concebei agora, se quiserdes, que a pedra, enquanto continua a mover-se, saiba e pense que se esforça tanto quanto pode para continuar a mover-se. Seguramente, essa pedra, visto não ser consciente senão de seu esforço e não ser indiferente, acreditará ser livre e perseverar no movimento apenas porque quer. É essa a tal liberdade humana que todos se jactam de possuir e que consiste apenas em que os seres humanos são cônscios [conscientes] de seus apetites [desejos], mas ignorantes das causas que os determinam. É assim que uma criança crê apetecer livremente o leite; um rapazinho, se irritado, querer vingar-se, mas fugir quando intimidado.” (ESPINOSA. Carta 58. Apud SAVIAN FILHO, J. Filosofia e filosofias. Existência e sentido. Belo Horizonte: Autêntica, 2016, p. 213). 

Perguntas 

  1. Por que Espinosa considerava o livre-arbítrio uma ilusão?
  2. Você já viveu alguma experiência em que, apesar de condicionamentos, conseguiu dar um sentido realmente seu à maneira de vivê-los?

TEXTO II

Maurice Merleau-Ponty

O ato do artista ou do filósofo é livre, mas não sem motivo. Sua liberdade reside no poder de equívoco [...] ou ainda no processo de regulagem [...]; ela consiste em assumir uma situação de fato, atribuindo-lhe um sentido figurado para além de seu sentido próprio. Assim Marx, não contente em ser filho de advogado e estudante de filosofia, pensa sua própria situação como a de um “intelectual pequeno-burguês” e na perspectiva nova da luta de classes. Assim também Valéry transforma em poesia pura um mal-estar e uma solidão com os quais outros nada teriam feito. O pensamento é a vida inter-humana tal como ela se compreende e se interpreta a si mesma. Nessa retomada voluntária, nessa passagem do objetivo ao subjetivo, é impossível dizer onde terminam as forças da História e onde começam as nossas; e a questão não significa rigorosamente nada, já que só existe História para um sujeito que a vive e só existe sujeito situado historicamente.( MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 635).

Pergunta

  1. Como a insistência de  Merleau-Ponty no poder do equívoco e no poder da regulagem permite a pensar a liberdade?
TEXTO III
Metafísica dos Costumes 
                                                             Immanuel Kant

[...] 'livre arbítrio' à escolha que pode ser determinada pela razão pura; a que pode ser determinada somente pela inclinação (impulso sensível, estímulo) seria o arbítrio animal (arbitrium brutum). O arbítrio humano é uma escolha que, embora possa ser realmente afetada por impulsos, não pode ser determinada por estes, sendo, portanto, de per si (à parte de uma competência da razão) não pura, podendo, não obstante isso, ser determinada às ações pela vontade pura (KANT, 2003, p. 63, grifos do autor).

Pergunta
  1. Qual relação pode ser fazer com o uso da razão para usufruir da liberdade, na concepção kantiana?

TEXTO IV
LIBERDADE: UMA CONDENAÇÃO?
João Paul- Sartre 

Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. O homem é livre porque não é si mesmo, mas a presença a si. O ser que é o que é não poderia ser livre. A liberdade é precisamente o nada que tendo sido no âmago do homem e obriga a realidade humana a fazer-se em vez de ser. (SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo). 

Pergunta

  1. Qual o entendimento da contraposição do homem ser condenado e ser livre?




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