Sofistas e Sócrates

 O relativo e o absoluto

Nessa aula os filósofos estão à caminho de compreensão de uma nova perspectiva de pensar a vida. No momento o foco é o homem. Que é o homem? Qual a sua essência? Os que filósofos que debruçaram sobre essas e demais perguntas, foram os sofistas, em especial, Górgias, como apontamento do relativo. Para Sócrates, o absoluto em essência do autoconhecimento. Vejamos alguns textos:



Fonte: Autor (2020)

Autoconhecimento

Fonte: Sócrates, o mestre em busca da verdade (novaescola.org.br)

a)  - Em geral, portanto, todos aqueles que antes considerávamos bens, parece que por natureza não podem ser chamados bens por si mesmos, mas, antes, resulta-nos o seguinte: se são dirigidos pela ignorância, revelam-se males maiores do que os seus contrários, porque mais capazes de servir a uma direção má; se, ao contrário, são governados pelo juízo e pelo conhecimento, são bens maiores. Por si mesmos, nem uns, nem outros têm valor. – Parece que é assim como dizes, não há como pensar diferente. – E que se deduz pressupostos? Todo o resto não é nem bem nem mal, e das duas coisas que permanecem, a ciência é um bem, a ignorância um mal. (PLATÃO, Eutidemo, 281, d - e).

b)     – Me parece que entre todas as opções possíveis não há homem que não escolha o mais vantajoso. Nem sábios nem prudentes, pois, acho que não agem com retidão. Na sabedoria resume-se a justiça e todas as outras virtudes; todas as ações justas e virtuosas são belas e boas. Os que as conhecem nada podem praticá-las como, se o tentam, só cometem erros. Assim, os sábios praticam atos belos e bons, enquanto os que não o são só podem descambar em faltas. E se nada se faz justo, belo e bom que não pela virtude, claro é que na sabedoria se resumem a justiça e todas as demais virtudes (XENOFONTE, Ditos e feitos memoráveis de Sócrates, III, 9).


c) – Ninguém que saiba ou creia que haja coisas melhores do que as que faz, e que sejam possíveis para ele, continua a fazer estas últimas, tendo possibilidade de coisas melhores; o deixar-se vencer por si próprio não pode ser senão sabedoria... E então? Acaso não afirmas que a ignorância é algo semelhante a isto: ter falsa opinião e enganar-se sobre argumentos de grande importância? E que outra coisa dizei eu, senão que ninguém voluntariamente, vai ao encontro dos males ou do que é por ele considerado um mal?! – Nada diferente poderia ser. [...] – Se, pois, o viver bem consistente nisto – em fazer e tomadas as medidas maiores e evitar as pequenas, qual nos parecerá ser a salvação e nossa vida? [....] Não te parece que seja, antes de tudo medida do excesso e da falta e procura de equilíbrio entre os termos? – Necessariamente, há de ser ciência e arte. (PLATÃO, Protágoras, 358a, 356c).

O método dialético socrático

O método é dividido em dois momentos: Ironia ou Refutação  e a Maiêutica. Vejamos:

Momento refutatório-irônico


a) Eutifrônio - Sócrates, não sei ser mais como dizer-te o que tenho em mente: qualquer definição que proponhas nos gira, não sei como, sempre ao redor, e não quer permanecer firme no lugar em que a colocamos. Sócrates – As definições que deste, Eutifrônio, parecem assemelhar-se às obras do meu progenitor Dédalo. E, caso eu formulasse e propusesse tais definições, talvez pudesses ridicularizar-me, como se, por causa do parentesco que tenho com ele, minhas obras feitas de palavras escapassem e não quisessem permanecer firmes no lugar em que as colocamos. Ora, ao contrário, as definições propostas são tuas. Por isso, esta imagem brincalhona não convém ao teu caso: com efeito, não querem permanecer firmes para ti, como tu próprio confessas.  Eutifrônio – Sócrates, parece-me, ao contrário, que a imagem brincalhona convenha muito bem às minhas definições: com efeito, este girar delas e não querer permanecer firmes no mesmo lugar, não sou eu que o produzo, e ao Dédalo me parece que sejas exatamente tu, porque, por minha vontade, permaneceriam firmes assim. Sócrates – Então, amigo, dá-se o caso de que eu tenha me tornado mais hábil na arte do meu antepassado, a tal ponto que, enquanto ele sabia tornar móveis apenas as próprias obras, eu, como parece, além das minhas, torno móveis também as dos outros. E, sem dúvida, o que de mais notável existe na minha arte é o fato de que sou hábil sem querer. Eu desejaria, de fato, que meus discursos permanecessem firmes, e que estivessem  imóveis, muito mais do que desejarias as riquezas de Tântalo acrescentadas à habilidade de Dédalo. (PLATAO, Eutifrônio).


Momento maiêutica 

a) Sócrates – É que tens as dores do parto, caro Teeteto, porque não estás vazio, mas grávido.  Teeteto – Não sei, Sócrates. Digo-te, porém, o que estou sentido. Sócrates – Mas, então, ridículo rapaz, não ouviste dizer que sou filho de uma famosa e hábil parteira, Fenarete? Teeteto – Já ouvi dizer isso. Sócrates – E ouviste dizer que pratico a mesma arte? Teeteto – De modo nenhum.  Sócrates – Então, saibas que é assim. Porém não o digas aos outros. Com efeito, amigo, mantive escondido que possuo esta arte: eles, não sabendo disso, não dizem isso de mim, e sim que eu sou um homem estranhíssimo e deixo em embaraço os outros. Ouviste dizer também isto? Teeteto – Sim. Sócrates – Digo-te, portanto, o motivo? Teeteto – Sim, por favor. Sócrates- Pensa bem em tudo o que se refere à condição das parteiras, e aprenderás mais facilmente o que quero dizer [...]. Além do mais, na minha arte há a seguinte particularidade: que se pode averiguar de vários modos, se o pensamento do jovem vai dar à luz algo de fantasioso e de falso, ou de genuíno e verdadeiro. Acontece a mim, também, o mesmo que às parturientes: sou estéril de sabedoria. Muito tem sido reprovado em mim, que interrogo a todo o tempo os outros e, depois, nada respondo a respeito de nada, por falta de sabedoria – na verdade, isto pode ser censurado em mim. E eis aqui a causa: a divindade me obriga a agir como obstetra, mas veda-me o dar à luz. [...] é verdade  que os que convivem comigo passam justamente pelo mesmo estado das parturientes, porque sentem as dores do parto e estão cheios de ansiedade, dia e noite, ainda maiores do que o parteiro que sou: ás perguntas que eu te fizer, trata de responder do modo que puderes. E, se, depois, examinando algo do que disseres, eu julgá-lo fantasioso e não verdadeiro, oi sem maior valor, e por este motivo separá-lo e dissecá-lo, não  te ofendas, como fazem as que dão à luz pela primeira vez com relação ao seus filhinhos (PLATÃO, Teeteto, 148e – 149b; 150 a; 150c-d; 151 a - d).

Dialética 

a)  Sócrates acrescentava também que o termo dialética provém do hábito de dialogar no geral e distribuir os objetos por gêneros; em consequência disso, era necessário dedicar-se sempre a este exercício, sendo que tal estudo forma os melhores homens, os mais hábeis políticos e os mais competentes dialéticos. (XENOFONTE, Ditos e feitos memoráveis de Sócrates, IV, 5)


b)   Sócrates buscava a essência das coisas e a reta razão: de fato ele tentava seguir o procedimento silogístico, e o princípio dos silogismos é, justamente, a essência. Com efeito, duas são as descobertas que com razão podem ser atribuídas a Sócrates: os raciocínios indutivos e a definição universal; tais descobertas são a base da ciência. (ARISTÓTELES, Metafísica, D 1078 b, 23-30).


Protágoras (ca. 480-410)

                                           " o homem é a medida de todas as coisas"


a) Protágoras pretendia que o homem é a medida de todas as coisas, sem querer afirmar nada mais, a não ser que, o que cada  um parece ser, isso é o que realmente existe. E a partir de tal suposição, o ser e o não ser são a mesma coisa, e a mesma coisa é o bom o mau, e assim tudo o mais que pode ser formulado por proposições contrárias, pois, em muitas vezes, uma coisa parece ser boa para uns e o contrário para outros, dado que aquilo que parece a alguém é a medida do que é. (Aristóteles, Metafísica, K 6, 1062 m).

b) o meu ensinamento concerne à astúcia: seja nos assuntos privados - isto é, o melhor de administrar a própria casa; seja nos assuntos públicos - isto é, o modo de se tornar sumamente hábil nos assuntos do governos da coisa pública (Patão, Protágoras, 318).





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