Violência Urbana

 Leia o texto abaixo e anote as  principais ideias paa o debate:

O CENÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA

 Sérgio Adorno✱ 

A sociedade brasileira, egressa do regime autoritário, há duas décadas, vem experimentando, pelo menos, quatro tendências: a) o crescimento da delinquência urbana, em especial dos crimes contra o patrimônio (roubo, extorsão mediante sequestro) e de homicídios dolosos (voluntários); b) a emergência da criminalidade organizada, em particular em torno do tráfico internacional de drogas, que modifica os modelos e perfis convencionais da delinquência urbana e propõe problemas novos para o direito penal e para o funcionamento da justiça criminal; c) graves violações de direitos humanos que comprometem a consolidação da ordem política democrática; d) a explosão de conflitos nas relações intersubjetivas, mais propriamente conflitos de vizinhança que tendem a convergir para desfechos fatais. Trata-se de tendências que, conquanto relacionadas entre si, radicam em causas não necessariamente idênticas.

Embora o crescimento da criminalidade urbana seja matéria controvertida, as estatísticas oficiais de criminalidade, base sobre a qual se realizam diagnósticos, avaliações, análises e estudos científicos estão apontando no sentido de uma tendência mundial, desde os anos 50, para o crescimento dos crimes e da violência social e interpessoal, ainda que as taxas indiquem sensíveis declínios no curso da década de 1990, sobretudo nos Estados Unidos, ao que parece estimuladas em parte pelo desenvolvimento econômico, pela redução do desemprego, pela expansão do mercado consumidor e do bem-estar, ao lado certamente dos efeitos provocados por inovadoras políticas de segurança. 

Não era de esperar que a sociedade brasileira estivesse imune a este movimento de tendências crescentes, sobretudo porque o país se encontra no circuito das rotas do tráfico internacional de drogas e de outras modalidades de crime organizado em bases transnacionais como o contrabando de armas, atividades que parecem constituir-se na bomba de combustão do crescimento da criminalidade violenta. Mais surpreendente, contudo, é verificar que as taxas de criminalidade violenta no Brasil em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo são superiores inclusive às taxas de algumas metrópoles norte-americanas. [...].

 As [...] regiões metropolitanas seguem padrão idêntico. Enquanto a taxa de homicídio cresceu 209% no Brasil, no período de 1980 a 1998, nas doze regiões metropolitanas cresceu 262,8%. Nessas regiões, viviam, em 1998, 36,7% da população brasileira. No mesmo ano, respondeu por 57,7% do total de mortes resultantes de homicídios voluntários ou agressões.

[...]. Em todo o país, o alvo preferencial dessas mortes compreende adolescentes e jovens adultos masculinos, em especial procedentes das chamadas classes populares urbanas, tendência que vem sendo observada em inúmeros estudos sobre mortalidade por causas violentas. [...]. No município de São Paulo, em um período de 35 anos (1960- 1995), o coeficiente de homicídios para adolescentes, do sexo masculino, na faixa de 15-19 anos, passou de 9,6 para 186,7/100.000 habitantes, vale dizer um crescimento da ordem de 1.800% (MELLO JORGE, 1998). [...].

Referência citada no texto: MELLO JORGE, M. H. P. Os adolescentes e jovens como vítimas da violência fatal em São Paulo. In: PINHEIRO, P. S. (Org.). São Paulo sem medo: um diagnóstico da violência bana. Rio de Janeiro: Garamond, 1997, p. 97-120.

Sérgio Adorno é Professor de Sociologia da USP – Universidade de São Paulo, fazendo parte da equipe de pesquisadores do seu Núcleo de Estudos da Violência, que reúne diversos especialistas na temática. O texto trata-se de parte da seção (p. 88-92) do seu artigo “Exclusão socioeconômica e violência urbana”, publicado na Revista Sociologias (Porto Alegre, ano 4, n. 8, jul/dez 2002, p. 84-135). Disponível em: http://bit.ly/14DTQpK Acesso: janeiro/2019.

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