Diálogo socrático-platônico

 Aula de Filosofia
Diálogo socrático-platônico


Explicação do Método

Tudo inicia-se com uma pergunta adequadas, passando pela maiêutica (ciência ou arte do parto). Em que vai adquirindo-se o conhecimento progressivamente  daquilo que é discutido. E como prática constante. 

Estrutura do diálogo

Refutação e ironia: concepção  incialmente apresentada no diálogo e ao mesmo temo, demolindo no interlocutor o orgulho, a arrogância e a presunção do saber, 

Maiêutica:  uma série de questões trazendo à luz e perceber  o confronto  de opiniões  e questioná-la criticamente. 


Aplicação 

Leia o texto abaixo

Vejamos agora um trecho de um dos diálogos de Platão, Eutífron, que constitui um modelo exemplar do método dialético. Na cena inicial, à porta do tribunal de Atenas, Sócrates encontra Eutífron, conhecido como grande entendido em temas religiosos. O filósofo conta que movem contra ele uma ação em que é acusado de corromper os jovens inventando novos deuses e desacreditando os antigos.


Diálogo com Eutífron


Eutífron, por sua vez, comenta que veio ao tribunal por   ter   apresentado   uma   acusação   de  homicídio contra   o   próprio   pai.   Conta   que   a   vítima   era   um servo   que,  embriagado, degolou  outro   servo.   o  pai prendeu o homicida em um fosso, sem ter maiores cuidados com ele, enquanto esperava orientação do encarregado de justiça. Só que o servo assassino não aguentou o cativeiro e faleceu de frio e inanição. Eutífron   julga,   então,   que   seu   pai   teria   se   tornado um homicida também, por omissão, e que, ao acusá-lo,   estava   agindo   de   maneira   piedosa,   isto   é, conforme o dever para  com os deuses. e o diálogo prossegue: 

Sócrates: – Por Zeus, Eutífron, julgas saber com tanta precisão a opinião dos deuses a respeito do que é e não   é   piedoso,   que   não   receies   que,   havendo   as coisas sucedido como afirmas, possas cometer uma crueldade movendo esse processo contra teu pai? 

Eutífron:  – Assim, Sócrates, eu não teria utilidade e Eutífron   não   se   distinguiria   do mais   comum  dos homens se não tivesse conhecimento de todas essas coisas     com     precisão.     

S.:     –     Perceberás,     por conseguinte,   meu   caro   Eutífron,   quão   proveitoso para      mim  seria tornar-me   teu  discípulo, especialmente antes da ação judicial [...]

[...]   

S.:   –   Explica-me,   então,   o   que   consideras piedoso e ímpio [não piedoso].

E.: – Digo que é piedoso isso mesmo que farei agora, pois   em   se   tratando   de   homicídios   ou roubos sacrílegos,   ou   qualquer   outro   crime,   a   piedade impõe   o   castigo   do   culpado,  seja este   pai,  mãe   ou outra pessoa qualquer; não agir assim é ímpio. 

[...].

[...] S.:  –   Pode   ser   que   o   seja,   mas   também   existem muitas     outras     coisas,     Eutífron,   consideradas piedosas. 

E.: – Evidentemente que sim. 

S.:   –   Recorda,   porém,   que   não   te   pedi   para demonstrar-me   uma   ou   duas   dessas   coisas, dessas que são piedosas, mas que me explicasses a natureza de   todas   as   coisas   piedosas.   Porque  disseste,   salvo engano,   que   existe   algo   característico   que   faz   com que todas as coisas ímpias sejam ímpias, e todas as coisas piedosas, piedosas. Recordas-te? 

E.: – Recordo-me. S.: – Pois bem, esse caráter distintivo é o que desejo que me esclareças, a fim de que, analisando-o com atenção e servindo-me dele como parâmetro, possa afirmar que tudo o que fazes, ou um outro, de igual maneira é piedoso, enquanto aquilo que se distingue disso não o é.  

E.:  – Se é isso o que queres, dir-te-ei imediatamente. 

S.: – Em verdade, é só isso que desejo.

E.:  –   É   piedoso   tudo   aquilo   que   é   agradável   aos deuses, e ímpio o que a eles não agrada.  

S.:  –   Ótimo,   Eutífron,   respondeste   agora   como   eu esperava que o fizesses, se o que afirmas é correto embora   eu   não   o   saiba.   Mas   é   evidente   que   nem os trarás que o que declaras é a pura verdade.

E.: – Sim, claro. 

S.:  – Muito  bem,  consideremos  o  que  vamos  dizer. Uma   coisa   e   um   homem   que   são  agradáveis   aos deuses são piedosos, ao passo que uma coisa e um homem detestados pelos deuses são ímpios. 

[...] E.: – Sim. 

[...]  S.:  –   E   não   afirmaste   também,   Eutífron,   que   os deuses lutam entre si, que apresentam diferenças e detestam uns aos outros? 

E.: – Sim, afirmei. 

S.:  – Mas quais são essas divergências que causa ódios e essas cóleras, estimado amigo? 

[...] 

S.: – Então, qual seria o assunto que, por não ser passível  de  decisão,  causaria  entre   nós  inimizade  e nos tornaria reciprocamente irritados? Pode ser que não   esteja   a   teu   alcance,   mas   considera,  pelo   que estou dizendo, se se trata do justo e do injusto, do belo e do feio, ou do bom e do mau. Com efeito, não é por causa disso que, justamente devido às nossas diferenças   e   por   não   poder  conseguir   uma   decisão unânime,   nos   convertemos   em   inimigos   uns   dos outros [...]?

E.:  –   De   fato,   Sócrates,   eis   aqui  a   divergência   mais frequente e as causas que lhe dão origem. S.: – Não acontecem   igualmente   as   mesmas   divergências entre os deuses e pelos mesmos motivos?E.: – Com toda a certeza. [...]
S.: – E não é verdade que aquilo que cada um deles julga   bom   e   justo   é   também   o   que   ama,  e  que   o contrário lhe desagrada?  

E.: – Sim. 

S.:  – Mas são as mesmas coisas, como afirmas, que uns   reputam   justas   e   outros   injustas.   De  suas divergências   acerca   disso   é   que   se   originam   as guerras e as discórdias entre eles, não é?

E.: – De fato. 

S.:  –   Temos   de   afirmar,   por   conseguinte,   que   as mesmas coisas são amadas pelos deuses e que lhes são ao mesmo tempo agradáveis e desagradáveis. 

E.: – Parece que sim. 

S.:  –   O   que   significa,   Eutífron,   que   algumas   coisas poderão ser ao mesmo tempo piedosas e ímpias. 

E.:– É possível. 

S.:  –   Então,   estimado   amigo,   não   respondeste   à minha pergunta. Pois pedi que me explicasses o que é   [...]   piedoso   e   ímpio.   Porém   vimos   que   o   que agrada   a   alguns   deuses   pode  desagradar   a   outros; portanto,   querido   Eutífron,   não   seria   de   espantar que   aquilo   que  fazes  ao   castigar   teu   pai   fosse agradável   para   Zeus,   mas   detestável   para   Cronos   e Urano  [...]  e,   da   mesma   maneira,   agradável   e desagradável para uns e outros deuses que divergem a    respeito  disso.     (Platão,    Eutífron     –    ou    da religiosidade, p. 39-44).


Analisar o diálogo, identificando


a) O que Eutífron está convencido de conhecer e o parágrafo que expressa esse convencimento;

b)O suposto motivo de Sócrates para querer aprender com seu interlocutor e o parágrafo que retrata esses interesse;

c)A questão investigada por Sócrates nesse início do diálogo;

d)A primeira resposta de Eutífron à questão;

e)O problema identificado nessa primeira resposta;

f)A segunda resposta de Eutífron à questão;

g)O problema identificado nessa segunda resposta; e,

h)A etapa da dialética socrático-platônica desenvolvida nesse trecho (justifique)

(Responde no caderno)



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